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30/04/2012

A beleza do Porto (II)



Ao meu amado português J Francisco Saraiva de Sousa

São Francisco


Francisco,
uma beleza
que só santo tem.
faz um milagre
só para mim.

Vem, meu
branquinho
de faiança,
de louça,
numa mesa de festa.

Tu,
da brancura
de uma toalha de linho
lavada na pedra do rio
alvejada pelas minhas mãos.

Acendo-te uma
vela
mas, hoje,
vem
só para mim.

Letícia d'Albuquerque Maram. Valle

Capitania hereditária de Pernambuco,
do ilustre Dom Duarte Coelho Pereira.

Reyno de Portugal, do Brasil e das Terras d'Aquém e d'Além-mar.

Recife, XXX/IV/MMXII.


Foto de J Francisco Saraiva de Sousa







A beleza do Porto (I)


Ao meu amado português J. Francisco Saraiva de Sousa



Dr. Francisco

Ai, Dr. Francisco,
De Santo, Doutor, Poeta e Louco
Tens um pouco.
Por que não me vens curar
Dessa dor,
Que se alastra
Desterra-me
Para além-mar. . .

Guardo teu retrato
Debaixo da renda do criado-mudo
E o lencinho no meu peito
Tem bordadas as tuas iniciais.
Já perco saúde e juízo
De esperar a ama anunciar:
“Sinhazinha, é chegado o Dr. Francisco!!!”

Letícia d'Albuquerque Maram. Valle

Capitania hereditária de Pernambuco,
do ilustre Dom Duarte Coelho Pereira.


Reyno de Portugal, do Brasil e das Terras d'Aquém e d'Além-mar.

Recife, XXX/IV/MMXII.


J. Francisco de Sousa

cyberdemocracia.blogspot.pt

facebook.com/igor.sousa2



Pintura de Romero de Andrade Lima


28/04/2012

Gago Coutinho e Sacadura Cabral (II) - Hidroavião na Cidade do Recife


Hidroavião de Sacadura Cabral e Gago Coutinho. Primeira travessia da Europa para a América do Sul em avião, 1922.
Hidroavião aterrissando no Marco Zero.






Gago Coutinho e Sacadura Cabral


Por Alberto Studart 
A primeira etapa desta heroica viagem que se iniciou em Lisboa às 16:30 horas do dia 30 de Março desse ano (1922), num hidroavião monomotor Fairey FIII-D MkII, com um motor Rolls-Royce e batizado de “Lusitânia”, terminou tranquilamente em Las Palmas nas Ilhas Canárias, onde os tripulantes se demoraram até 5 de Abril. A partir daí sobrevieram os maiores perigos e incidentes, como os que sucederam logo na etapa seguinte que os aeronautas cumpriram a muito custo, escalando na ilha de S. Vicente, no arquipélago de Cabo Verde, com graves danos nos flutuadores devido à humidade neles formada. Após as necessárias reparações,  levantaram voo no dia 17, do porto da Praia, na  ilha de Santiago, rumo ao arquipélago de S. Pedro e S. Paulo, já em águas brasileiras, amerissando aí no dia seguinte, com danos irreversíveis no aparelho, que perdeu um dos flutuadores, o que obrigou a que a dupla de aviadores fosse transportada por um Cruzador da Marinha portuguesa até à ilha de Fernando de Noronha, onde aguardaram pelo envio de um novo hidroavião Fairey a que batizaram de “Pátria” que lhes permitiu a decolagem no dia 11 de Maio para logo surgir novo infortúnio – uma falha mecânica no motor obrigou-os a  fazerem uma aterrissagem de emergência e  recolher-se de novo a Fernando de Noronha. No dia 5 de Junho, finalmente, recebem um novo Fayrei F III-D, a que a esposa do então Presidente do Brasil batiza de “Vera Cruz”. Este aparelho foi transportado para o arquipélago de S. Pedro e S. Paulo, de onde os aeronautas portugueses partiram rumo ao Recife e dai para o Rio de Janeiro, fazendo escalas em Salvador, Porto Seguro e Vitória. Nas águas da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, Gago Coutinho e Sacadura Cabral foram entusiasticamente aclamados como heróis pela
população que os aguardava, aclamação que se estendeu a todas as cidades brasileiras. Estima-se que nos setenta e nove dias da viagem o tempo de voo dispendido, nos 8.383 quilómetros percorridos, foi de apenas 62 horas e 26 minutos.
OS HOMENS
GAGO COUTINHO (1869-1959)
Biografia
Carlos Viegas Gago Coutinho, nasceu em Belém, Lisboa, em 17 de Fevereiro de 1869. Era filho de José Viegas Gago Coutinho e de Fortunata Maria Coutinho. Em 1885 concluiu o curso do Liceu e matriculou-se na Escola Politécnica para preparar a sua entrada na Escola Naval, um ano depois. Entrou para a Armada como aspirante em 1886. Em 1890 foi promovido a guarda-marinha, em 1891 a segundo-tenente, e em 1895 passou a primeiro-tenente. Em 1907 foi promovido ao posto de capitão-tenente e em 1915 ao posto de capitão-de-fragata. Em 1920 passou a capitão-de-mar-e-guerra. Em 1922 foi promovido ao posto de vice-almirante, e em 1958 a almirante.
O que celebrizou Gago Coutinho foi o seu trabalho científico pioneiro na navegação aérea astronómica e a realização, com Sacadura Cabral, da primeira travessia aérea do Atlântico Sul, entre Lisboa e o Rio de Janeiro. A partir do momento em que voou pela primeira vez com Sacadura Cabral, em 1917, Gago Coutinho tentou resolver os problemas que se punham à navegação aérea astronómica. Colocava-se o problema da dificuldade de definição da linha do horizonte a uma altura normal de voo. A dificuldade em efetuar medições precisas de posição em situação de voo com um sextante vulgar colocava problemas de natureza instrumental e metodológica.
Para resolver o problema de medição da altura de um astro sem horizonte de mar disponível Gago Coutinho concebeu o primeiro sextante com horizonte artificial que podia ser usado a bordo das aeronaves. Este instrumento, que Gago Coutinho denominou «astrolábio de precisão» permite materializar um horizonte artificial através de um nível de bolha de ar e é dotado de um sistema de iluminação elétrico do nível de bolha que permite fazer observações noturnas. Entre 1919 e 1938 Gago Coutinho dedicou-se ao aperfeiçoamento deste instrumento, que veio a ser fabricado e difundido pelo construtor alemão C. Plath com o nome de «System Admiral Gago Coutinho».
SACADURA CABRAL (1881-1924)
Biografia
Artur de Sacadura Freire Cabral nasceu a 23 de Abril de 1881 em Celorico da Beira. Era filho de Artur Sacadura Cabral e de Maria Augusta da Silva Esteves. Após os estudos primários e secundários assentou praça em 10 de Novembro de 1897 como aspirante de marinha, e frequentou a Escola Naval, onde foi o primeiro classificado do seu curso. Foi promovido a segundo-tenente em 27 de Abril de 1903, a primeiro-tenente a 30 de Setembro de 1911, a capitão-tenente em 25 de Abril de 1918 e, por distinção, a capitão-de-fragata em 1922.
Atividade Científica
Juntamente com Gago Coutinho estudou um novo aparelho com o qual se viria a conseguir uma navegação estimada, e que viria a auxiliar e a completar a navegação astronómica por intermédio do sextante modificado por Gago Coutinho. Inicialmente este aparelho foi chamado Plaqué de Abatimento e mais tarde Corretor de Rumos – Coutinho-Sacadura.
Este aparelho foi experimentado na primeira viagem aérea Lisboa-Madeira realizada em 1921. Tendo obtido os melhores resultados na sua utilização, este aparelho foi apresentado ao Congresso Internacional de Navegação Aérea, realizado em Paris de 15 a 25 de Novembro de 1921, onde teve boa aceitação. A memória descritiva do ‘Corretor’ foi publicada nos Anais do Club Militar Naval
A preparação para a 1ª Travessia Aérea do Atlântico Sul é da iniciativa de Sacadura Cabral, que expôs o projeto a Gago Coutinho, o que motivou que este acelerasse a adaptação do sextante clássico de navegação marítima à navegação aérea. A travessia iniciou-se em 30 de Março de 1922, em Belém no hidroavião ‘Lusitânia’. A primeira escala foi nas Canárias, de onde partiram para S. Vicente, em Cabo Verde. Daqui partiram para o Penedo de S. Pedro, com problemas de consumo de combustível. Ao amerissar, uma vaga arrancou um dos flutuadores do ‘Lusitânia’, o que provocou o afundamento do avião. Tendo sido recolhidos pelo navio ‘República’. “O ‘Lusitânia’ acabara de realizar uma etapa de mais de onze horas sobre o oceano, sem navios de apoio, mantendo uma rota matematicamente rigorosa, o que mais uma vez veio provar a precisão do sextante modificado, pois os Penedos de S. Pedro podem considerar-se um ponto insignificante na enorme vastidão atlântica.
Fonte: Clube de História de Valpaços
Abaixo: Chegada de Gago Coutinho e Sacadura Cabral a Lisboa
Abaixo: Gago Coutinho e Sacadura Cabral – Momentos antes da partida


Escultura de bronze com a imagem de Ícaro, figura da mitologia grega, homenageando grandes nomes da aviação como o brasileiro Santos Dumont e os portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral, que atravessaram o oceano Atlântico pela primeira vez em um hidroavião chegando ao Recife. Praça 17, Rua Imperador Pedro II.



(para o miguel portas)


para o miguel portas



a tristeza chega
súbito
é chuva no rosto
escorrendo
amarguras
ausências

pouco basta para
somos tão frágeis
tão uns dos outros

a tristeza chega em abril
mas floresce
em qualquer mês
onde
uma ausência
se fez sentir

crescemos
que se cresce sempre
com homens como tu
que são nós
mesmo depois de

não há palavras
tristes
há tristeza
nas palavras
onde existes ainda
27.04.2012 

(António José Cravo)


22/04/2012

Meninos e Cavalos #4




Sorri

        como um menino
            que vê longe.




                      

Salta,

voa, cavaleiro,

que o mundo
é teu

Cavaleiro Marlon Modolo Zanotelli

Álbuns "Fotos de Perfil" e "MET 2012" (by Ashford Farm)

Letícia Valle
facebook.com/laeti7










      


    


         

    

20/04/2012

Meninos e Cavalos #3

















Sem meu cavalo.
Só eu,
Antes de cavalgar.




Sou cavaleiro.
Juntos
                          Somos liberdade.


[Letícia Valle] 
  

Cavaleiro

 Marcel Modolo Zanotelli





  

15/04/2012

O Tigre


O tigre
William Blake

Tigre! Tigre! Brilho, brasa
que a furna noturna abrasa,
que olho ou mão armaria
tua feroz simetria?

Em que céu se foi forjar
o fogo do teu olhar?
Em que asas veio a chama?
Que mão colheu esta ama?

Que força fez retorcer
em nervos todo o teu ser?
E o som do teu coração
de aço, que cor, que ação?

Teu cérebro, quem o malha?
Que martelo? Que fornalha
o moldou? Que mão, que garra
seu terror mortal amarra?

Quando as lanças das estrelas
cortaram os céus, ao vê-las,
quem as fez sorriu talvez?
Quem fez a ovelha te fez?

Tigre! Tigre! Brilho, brasa
que a furna noturna abrasa,
que olho ou mão armaria
tua feroz simetria?

Foto:
Raphael Macek Photography
raphaelmacek.com
All rights reserved



Poema no livro "A Maldição do Tigre"
Colleen Houck
Editora Arqueiro

10/04/2012

Florbela Espanca (As Minhas Mãos)


Florbela Espanca (1894-1930)
As minhas mãos magritas, afiladas,
Tão brancas como água da nascente,
Lembram pálidas rosas entornadas
Dum regaço de Infanta do Oriente.

Mãos de ninfa, de fada, de vidente,
Pobrezinhas em sedas enroladas,
Virgens mortas em luz amortalhadas
Pelas próprias mãos de oiro do sol poente.

Magras e brancas... Foram assim feitas...
Mãos de enjeitada porque tu me enjeitas...
Tão doces que elas são! Tão a meu gosto!

Pra que as quero eu - Deus - pra que as quero eu?
Ó minhas mãos, aonde está o Céu?
...Aonde estão as linhas do teu rosto?


Espanca, Florbela. Sonetos. Cidade do Porto: Porto Editora, 2010. p. 108.

06/04/2012

Nuno Júdice (Rimbaud Inverso - I)


                                        




Nuno Júdice


RIMBAUD INVERSO            
                                
                                                  




O pastiche é um pastis




(fragmentos)








oblíquos carros do matinal clamor
murmúrio de séculos afogados bebendo ternura
fogo do deus solar oferecendo-se para fechar os olhos
à força e à beleza abraçadas no poder desmedido da Vida
oiro de lâminas escritas na ventura excessiva da juventude
portais escancarados lassos de olhos do deserto nocturno
estações morrem e florescem naqueles que, longe da divina claridade,
descobrem a partida eterna do sol desejado — por quê? — 
num porto regressado das brumas imóveis ascendidas da barca do outono
crucificaram a chuva encharcando o pão podre de farrapos, lama e fogo
esplêndidas cidades de paciência ardente armadas
na aurora raiada de real ternura de armas veladas
de espécies retardadas na morte dos queixumes sórdidos 
moderados pelos silvos pestilentos de um cântico de dentes
as eternas recompensas caem em cima de um cadáver de luz


JÚDICE, Nuno. Obra Poética (1972-1985). Quetzal Editores: Lisboa, 1999. 2a edição. p. 323